O otimismo empresarial europeu está em um nível recorde. Isso está contribuindo para um senso de resiliência diante de poderosas forças políticas, como o Brexit e a integração da União Europeia (UE). No entanto, a ascensão do populismo é uma preocupação que as empresas não podem ignorar ao elaborarem planos de negócios para os próximos anos.
O otimismo de negócios da UE atingiu 60% líquidos no primeiro trimestre de 2018. Este é o maior índice registrado em mais de uma década de pesquisa. Se por um lado a confiança é geral, o ressurgimento da França nos últimos meses é emblemático na Europa de forma mais ampla.
“O efeito Macron”
Em maio do ano passado, Emmanuel Macron tornou-se o mais jovem presidente da França. Desde então, ele assumiu um papel cada vez mais proeminente no cenário mundial. Olha-se para o seu papel de liderança na crítica pública aos EUA por terem se retirado do acordo de mudança climática de Paris, por exemplo.
Se Tony Blair representou a Europa através de seu relacionamento com George W. Bush, e Angela Merkel o fez com Barack Obama, Macron parece estar fazendo o mesmo com Donald Trump.
"O efeito Macron" está contagiando os líderes empresariais franceses. Dados da pesquisa International Business Report (IBR), realizada pela Grant Thornton, revelam que, no início de 2017, o otimismo das empresas francesas estava em 19%. Desde então, atingiu um recorde de 75%. As reformas políticas favoráveis às empresas também são um provável fator que contribui para esse aumento.
Preocupações com o Brexit são moderadas
Níveis recordes de confiança podem ser uma surpresa. E quanto ao Brexit, a evolução contínua da União Europeia com a ascensão do nacionalismo? Nossa pesquisa mostra que essas questões estão na mente dos líderes de negócios. Mas, na maior parte, a perspectiva é de resiliência.
O Reino Unido é um exemplo disso. Faltando menos de doze meses para o Reino Unido deixar a UE, a natureza exata do futuro relacionamento entre a Grã-Bretanha e a UE permanece incerta. Com um período de transição provável, até mesmo a data exata de "partida" está aberta a questionamentos. Mas as empresas estão levando bem a situação.
Uma proporção considerável de empresas da zona do Euro acredita que a estrutura de afiliação da UE mudará após o Brexit. Quase metade (43%) acredita que isso levará a um modelo de dois níveis de adesão à UE. Mas apenas 5% acham que isso levará à dissolução da UE. Um em cada quatro (26%) acredita que o Brexit não terá impacto na UE.
Uma perspectiva semelhante é clara no Reino Unido. Uma pesquisa recente da Grant Thornton Reino Unido descobriu que apenas 22% das empresas britânicas identificaram a estratégia Brexit como uma das cinco principais barreiras ao crescimento. E quase a metade (47%) daqueles que disseram ser uma das cinco maiores barreiras disseram que poderiam superá-la.
Apetite pela integração continua forte
Apesar da iminente saída do Reino Unido da UE, os poderes políticos ainda consideram a integração crítica para o futuro do bloco. Em maio de 2018, a Comissão Europeia publicou o seu projeto de orçamento para 2021-27. Ela descreve o documento como "um orçamento que une e não divide".
Para as empresas europeias, a integração também permanece na agenda. Em toda a zona do Euro, 65% das empresas gostariam de ver uma maior integração econômica da UE, ante 63% no ano passado. No entanto, apenas 35% querem mais integração política. Eram 44% no ano passado. A Alemanha é o único país onde mais da metade dos líderes empresariais (63%) querem ver mais integração política.
Fora da zona do Euro, o apoio esmagador das empresas situadas na Polônia (82%) para uma maior integração econômica da UE se destaca. O país está emergindo como um membro importante e influente da comunidade empresarial européia. O Banco Mundial espera crescimento de 4,2% do PIB na Polônia em 2018, impulsionado em parte pelo baixo desemprego.
A Polônia é vista como geograficamente importante na construção de rotas de transporte e comércio entre a Europa Oriental e Ocidental. Inclusive, fundos europeus estruturais e de investimento, totalizando cerca de 20 mil milhões de Euros, foram direcionados à Polónia. Uma das principais prioridades destes fundos é “completar as redes transeuropeias de transporte e melhorar a acessibilidade do país”.
Empresas preocupadas com o sentimento populista
A resiliência da Europa oscila mais quando se trata do impacto potencial do populismo na estabilidade econômica. Uma em cada cinco empresas (19%) da zona do Euro cita o aumento da popularidade dos partidos políticos nacionalistas como a maior ameaça à estabilidade econômica da UE.
Não é difícil ver por que as empresas estão preocupadas com a incerteza potencial. Na Áustria, uma coalizão de centro-direita e extrema direita chegou ao poder em 2017. A campanha pela independência catalã dividiu a Espanha. E na Polônia, o partido no poder promove ativamente o nacionalismo polonês.
De acordo com Larissa Keijzer, Diretora Executiva da GTIL e Chefe Regional dos Recursos da Rede Europeia na Grant Thornton Internacional, "as empresas temem que a política nacionalista leve à desvalorização do comércio transfronteiriço e desencorajem a contratação de trabalhadores estrangeiros qualificados. Um aumento do nacionalismo também pode significar um movimento em direção a uma mentalidade insular que não está preparada para se envolver com o resto do mundo."
Flexibilidade é fundamental
As empresas europeias são unidas e resilientes. No entanto, o nacionalismo parece destinado a permanecer como força na política europeia. Da mesma forma, o Brexit reorganizará o continente política e legalmente. Portanto, as empresas precisarão de flexibilidade em seu planejamento para acomodar uma série de possíveis situações nos próximos anos.
Nenhuma empresa quer acabar perdendo participação de mercado, ou acesso ao mercado, por ter subestimado o impacto do Brexit ou uma mudança na política do governo. Estabelecer ou aumentar a presença em mercados fora da Europa pode ser uma estratégia sensata para as empresas que buscam mitigar os riscos potenciais de futuras instabilidades mais próximas de casa.