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A área de saúde começa a experimentar a utilização de "big data" mas, como já compartilhado por Anne McGeorge, sócia de gestão de saúde da Grant Thornton US, ainda há muito para se aprender sobre os benefícios e desafios das análises de grande volume de dados.
Prestadores de serviços de assistência médica já realizavam comparações de big data muito antes de sabermos que existia. Hoje em dia, em alguns ambientes controlados, a tecnologia permite que vastos bancos de dados de registros médicos detalhados sejam digitalizados e analisados em grande escala o suficiente para detectar padrões invisíveis ao olho humano.
Ao mesmo tempo, a área de saúde passa por uma mudança cultural fundamental, na qual os prestadores de serviços de assistência médica são pagos para garantir que os pacientes permaneçam saudáveis em vez de que tenham de recorrer a um tratamento ou procedimento particular. Análises de big data podem auxiliar os prestadores a fazer esta transição do modelo “taxa por serviço” para um modelo com base em valores.
Porém, ao realizar a transição, os prestadores de serviços de assistência médica encontram desafios importantes: como organizar os dados e como fazer uso significativo deles? Como coletar e armazenar dados altamente sensíveis de forma segura e disponibilizá-los para análises de dados? Como realizar a comunicação entre bancos de dados de instituições diferentes, mas relacionadas? E como os dados neste ambiente federado são gerenciados e distribuídos de forma eficiente, para que cada usuário de dados tenha a mesma experiência?
Estas são perguntas que os líderes de cada empresa em cada setor devem fazer antes de embarcar na jornada do "big data".
Uma abordagem com base em valores
Os sistemas de assistência médica pelo mundo têm muitos desafios: cuidados com a população idosas; tratamento de taxas crescentes de patologias graves como doenças cardíacas, diabetes e obesidade; e aumento das expectativas dos pacientes e padrões de responsabilidade. Tudo isso, somando a fundos públicos para pagamento de assistência médica cada vez menores, está convencendo os formuladores a proceder em direção a uma abordagem com base em valores para fornecimento de assistência médica.
Nos EUA, por exemplo, onde o programa Medicare do governo federal financia pagamento de planos de saúde para idosos e jovens selecionados, mais de 50% dos pagamento de planos para maiores de 65 anos deverão ser feitos desta forma até 2020. Em 2009 o governo do Reino Unido introduziu uma iniciativa chamada Comissionamento para Qualidade e Inovação, que permite a retenção de 2,5% do custo de tratamento hospitalar, dependente de resultados.
Estes tipos de reforma requerem esforços para a utilização de big data para compreensão do real estado de saúde real da população de pacientes e para fazer recomendações adequadas para manutenção da saúde das pessoas.
No entanto, as análises de big data podem ter uma função ainda mais importante. Por exemplo, elas podem auxiliar na detecção de sinais de alerta precoces em um surto de gripe, através da compreensão das causas subjacentes e, a partir daí, tratar pacientes afetados de forma mais eficiente. Podem auxiliar os sistemas de assistência médica governamentais e seguradoras de saúde a descobrir percepções que levem a tratamentos mais eficientes e financeiramente sustentáveis. Por exemplo, através da compreensão das causas genéticas subjacentes de doenças, medicações existentes podem ser adaptadas para tratamento destas doenças.
Pagamento por resultados
Além dos critérios para pagamento aos prestadores, como o pagamento é realizado também impacta na situação do big data.
Muitos governos e seguradoras migraram para um sistema onde um único pagamento é oferecido para um ciclo completo de assistência de quadros médicos agudos, ou para um período definido de assistência geral para condições crônicas. Na Suécia, as autoridades de Estocolmo utilizam esta abordagem para próteses de quadril e joelho desde 2009; na Alemanha,estes pagamentos são oferecidos para internações de pacientes em hospitais. É uma abordagem que encoraja os prestadores a aumentar sua eficiência e colaboração na forma que fornecem assistência médica. O big data pode auxiliar nesta colaboração.
Por exemplo, caso prestadores de serviços de assistência médica possam coletar dados sobre o tratamento de determinada patologia em diversas instituições, eles podem identificar fatores comuns em casos eficientes e econômicos. O compartilhamento destes dados com a área de saúde pode auxiliar na redução da "variação clínica" - casos em que o mesmo tratamento obteve resultados diferentes.
Em longo prazo, o big data pode auxiliar os prestadores a compreender se realmente haverá a melhora do paciente ao fim de determinados tratamentos ou procedimentos. Se não, os prestadores podem economizar ao não realizar procedimentos desnecessários.
Uma iniciativa global para sistemas eletrônicos de registros médicos criará o big data que permitirá que estes tipos de colaborações ocorram. Mas o armazenamento eletrônico de dados possui riscos.
Riscos cibernéticos
Crimes cibernéticos e a ameaça à privacidade dos pacientes é a maior preocupação dos CEOs dos hospitais neste momento. Apenas nos EUA, 113 milhões de registros médicos foram hackeados em 2015 e outros 3,5 milhões foram invadidos no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados do governo.
A segurança dos dados não é o único problema que pode afetar a confiança do público na coleta e armazenamento de seus dados pessoais. A falta de regulamentação sobre como estes dados poderão ser utilizados também é um desafio e pode ter o efeito adicional de que as pessoas optem por não compartilhar seus dados desde o início. Isto ameaça a promessa potencial da inovação dos dados, e dificulta o gerenciamento de grandes conjuntos de dados, aumentando as chances de uma violação.
Os registros médicos eletrônicos são apenas um dentre centenas de sistemas de TI na área de saúde que necessariamente serão interoperacionais - isto é, capazes de se comunicar entre si - caso o big data seja utilizado com potencial máximo. Violações de dados poderiam ocorrer em qualquer momento da conectividade, o que exige que os prestadores realizem auditorias em seus sistemas para garantir a segurança e a proteção em qualquer ponto de vulnerabilidade.
Além disso, os prestadores deverão ter um plano definido que possa ser implementado em caso de violação. É mais difícil esta aplicação na área de saúde do que em qualquer outro setor porque, conforme relatado por um CEO de hospital: "Não podemos desligar os sistemas clínicos, ou as pessoas vão morrer."
Prestadores devem compreender que tipos de violações ou invasões podem ocorrer, além das implicações operacionais e de TI destas violações - princípios que se aplicam a outros setores. Por exemplo, quais sistemas podem e quais não podem ser desligados? Quais as implicações legais a serem consideradas; impactantes em um mundo onde os avanços tecnológicos estão em ritmo muito mais acelerado que as prerrogativas legais e de governança, especialmente quando não é claro quem "possui" os dados? Muitos prestadores de serviços de assistência médica ainda não pensaram em todas estas questões, e lidar com o crime cibernético ainda acontece de forma muito reativa. Apesar disso, alguns já estão adotando uma abordagem mais planejada e organizada.
Oportunidades do Setor Privado
Independente dos riscos, o potencial de melhoria da prestação de serviços de assistência médica pelo big data não pode ser ignorado. O desafio é encontrar os recursos para explorar esse potencial. Para prestadores públicos de serviço de assistência médica responsáveis pelo investimento de dinheiro público, esta pode não ser uma opção, o que deixa uma lacuna para prestadores do setor privado preencherem com a oferta de seus serviços.
Muitas grandes seguradoras de saúde estão testando o big data, incluindo as da Suíça, de Zurique e várias seguradoras baseadas nos EUA. Elas utilizam tecnologia como a Watson da IBM que analisa grandes quantidades de dados não estruturados para responder a questões específicas, extrair informações chave ou revelar descobertas de dados para melhorar os resultados dos pacientes. Durante os próximos anos, é provável que empresas privadas tomem a liderança neste campo, consolidando-se na coleta e prospecção de dados de assistência médica públicos/privados em prol de resultados favoráveis para pacientes e prestadores. Sistemas fortes de governança de dados no setor privado também dão origem a desafios de interoperabilidade que devem ser superados.
Iniciativas abertas de dados podem fornecer outra opção para aproveitamento dos benefícios do big data. No Reino Unido, o Projeto Genoma 100.000 financiado pelo governo abriu os dados genéticos de 100.000 pacientes para organizações dos setores público e privado para auxílio no sequenciamento de 100.000 genomas até 2017. O projeto espera elevar o patamar do Reino Unido no campo da genômica, levando a uma série de benefícios tais como diagnósticos mais rápidos e precisos, ensaios clínicos mais rápidos para novos medicamentos e tratamento e, finalmente, novas curas.
Embarcar na jornada do big data pode ser assustador, mas os prestadores de serviço de assistência médica, necessariamente, deverão subir a bordo. Conforme o setor progride em direção a um sistema de recompensa baseado em valores, os prestadores públicos e privados que alavancarem o big data e compartilharem através do ecossistema de prestação de assistência médica poderão oferecer tratamentos mais eficientes e consistentes.
A indústria da assistência médica pode também ser pioneira nas mudanças que acontecerão também em outros setores. Sim, o big data possui seus desafios: segurança, governança e interoperabilidade, só para citar alguns - mas também possui múltiplos benefícios que, no fim das contas, poderão levar a maiores descobertas e melhores resultados, desempenhos e crescimento. Sem falar nas comunidades mais saudáveis.
Para saber mais sobre como aproveitar o potencial do big data para melhorar seu desempenho, entre em contato com a Grant Thornton Brasil.