“O blockchain não é a solução para tudo”, alerta Wayne Pisani, chefe de serviços financeiros da Grant Thornton Malta. “Pelo contrário, ele é, normalmente, parte de uma solução para uma situação que você já deve ter enfrentado e está usando múltiplos processos, os quais você deseja simplificar”.
Para isto, compreender melhor a tecnologia será ótimo para que você analise se o blockchain é poder servir para o seu objetivo.
“É muito importante que as pessoas que participam de um projeto de blockchain compreendam a tecnologia ou, aos menos, as suas implicações”, acrescenta Luis Pastor, sócio da Grant Thornton Espanha. “As pessoas têm suas próprias ideias de como o blockchain poderia ser aplicado em suas empresas, como um novo modelo comercial ou substituindo um sistema administrativo interno, mas elas precisam entender o custo de uma solução ou de outra, a segurança e o impacto econômico.”
“É uma mudança cultural”.
A melhor abordagem, diz ele, é começar pouco a pouco, pegar algumas pessoas relevantes e treinadas da sua empresa e desenvolver um produto viável mínimo (MVP). Enquanto faz isso, você será encorajado a participar de um consórcio de partes interessadas ou a convidar parceiros de serviços comerciais para ajudá-lo a envolver outras pessoas.
Mais do que apenas blockchain
O risco quando você for conversar, pela primeira vez, com colegas e possíveis parceiros comerciais sobre o blockchain é que eles fiquem presos ao bitcoin. Criptomoedas representam apenas uma das aplicações da tecnologia blockchain. Organizações fora do setor de serviços financeiros podem implementar o blockchain de uma maneira muito diferentes e extremamente otimizada que, por outro lado, está centrada em seus dados comerciais.
Outro equívoco é imaginar que a tecnologia blockchain é um novo tipo de banco de dados que substituirá os sistemas de recuperação e armazenamento de dados existentes de sua empresa. Não é o caso, informa Pastor: “Precisamos ter em mente que blockchains não foram desenvolvidos para armazenar informações. Ele tem taxas de dados muito ruins.”
“É bom para certificar que algo está acontecendo por meio de sua funcionalidade de criptografia, mas as empresas precisam compreender que o blockchain faz parte uma plataforma muito maior. Você deve manter o sistema de informações que já possui e usar o blockchain junto com ele, para verificar e controlar a identidade digital.”
“O blockchain não é uma solução definitiva. É apenas um código aberto que precisa de outras peças de softwares, assim como outras soluções que existem no mundo”.
Blockchain: tecnologia e segurança
Isso significa que você deve criar interfaces entre seu sistema e o blockchain que está implementando. E isso, por sua vez, tem implicações na segurança: enquanto a propriedade dos dados no registro pode ser criptograficamente “hasheada” e protegida por incentivo mútuo em toda a rede, qualquer sistema externo fora do blockchain corre o risco de ser hackeado.
Por isso, se você deseja usar a tecnologia blockchain para verificar identidades digitais, podem existir problemas relacionados a como as chaves públicas e privadas são administradas pelos participantes de um blockchain público, assim como acontece com o bitcoin. Imagine sua chave pública como um cartão ATM e sua chave privada como um código PIN. Se alguém descobrir este último, seus ativos desaparecerão para sempre. E você nem estará sendo hackeado neste caso: é apenas um roubo comum.
Outra surpresa para os novatos em tecnologia blockchain é que os participantes de uma rede devem contribuir com capacidade de processamento conforme a cadeia cresce. A natureza do blockchain é distribuída, o que significa que todos com interesse nele possuem uma cópia atualizada do mesmo e todos os “nós” de participantes precisam constantemente validar todo o blockchain conforme ele cresce.
Claro que, uma vez feita a implementação inicial do blockchain, os custos posteriores caem drasticamente, já que sua natureza distribuída proporciona a ele resistência à prova de falha direto da arquitetura.
Uma força da mudança
Em Malta, Pisani vê tanto otimismo como hesitação a este respeito. “O país e os políticos estão muito interessados em aderir à tecnologia e estabelecer o país como a capital do blockchain na Europa”, diz ele. “Entretanto, isto é compensado por uma abordagem pragmática de fazer isso de forma responsável”.
“Estamos vendo uma certa mudança. Enquanto os reguladores financeiros ainda são céticos quanto à criptomoeda, eles mantém a mente aberta no que refere ao aspecto tecnológico do blockchain aplicado a cenários que não se baseiam em criptomoedas.
Markus Veith, sócio da Grant Thornton EUA concorda: “Sempre existem pessoas com grandes ideias, mas há regulamentos a serem seguidos. Às vezes, as coisas que você é capaz de fazer e as coisas que você tem permissão legal para fazer são diferentes.”
“As coisas precisam se desenvolver do ponto de vista regulatório antes que você possa usar todos os recursos da tecnologia blockchain”.
Redes distribuídas
“Há muita discussão acerca dos prós e contras de redes distribuídas”, observa Rupert Colchester, chefe do setor de blockchain da IBM no Reino Unido e Irlanda, “mas isso depende do caso. Muitas vezes, as empresas estão trabalhando com seus concorrentes dentro de uma rede: isso é uma mudança na indústria, em que elas ficam juntas para beneficiar a todos”.
“Pegue como exemplo uma simples solução de ATM”, diz Pisani. “Se um ATM é operado por um banco e você tem um cartão de outro banco, teoricamente você não pode usá-lo”. Mas é claro que nossos ATM funcionam praticamente para todos os bancos, graças a um acordo de consórcio. A mudança de cultura trazida pela tecnologia blockchain seria devido ao elemento de confiança verificado. “Se o consórcio entre as entidades regulamentadas estiver aliado uma situação de confiança no blockchain, essas entidades podem simplesmente trabalhar sem a necessidade de todos aqueles contratos e aprovações regulatórias”.
Integrar partes interessadas é a chave para tornar seu projeto blockchain um sucesso e pode não ser tão difícil quanto parece.
“As pessoas acham relativamente simples conseguir a adesão”, diz Colchester, “mas, na verdade, é um problema de com que rapidez conseguirão ter acesso a pessoas de diferentes empresas e colocar 10 ou 20 delas em uma sala ou em uma ligação ao mesmo tempo. Mesmo quando você está trabalhando com pessoas da sua própria empresa com as quais você tem uma apenas pequena relação, isso leva tempo.
“Mas veja o Digital Trade Chain, que é muito especial em comunicados empresariais sobre tecnologia nos últimos dez anos. É um consórcio real de bancos que, tradicionalmente, concorreriam entre si, mas estão se unindo para melhorar o financiamento do comércio para pequenas e médias empresas, beneficiando a economia de diversos países europeus.
“Antes do blockchain, isso simplesmente não seria possível”.
Comece com pouco
O conselho de Colchester é não esperar que todos tenham aderido à sua plataforma antes de desenvolver o MVP. Se você tem cinco ou seis parceiros, vá em frente e use a solução blockchain que criou para atrair mais dez posteriormente.
“Comece com um projeto pequeno e gerenciável, com um resultado definido e experimente-o, depois reitere-o rapidamente”.
Para ajudar nisso, uma crescente variedade de opções de startup surgiram nos últimos anos. “O código por trás do blockchain é aberto, você pode replicá-lo e aperfeiçoá-lo como quiser. As pessoas podem criar suas próprias soluções”, diz Pastor.
Inevitavelmente, todas essas questões juntas - elaborar um caso de uso, compreender a tecnologia, enfrentar a resistência, obter a adesão de partes interessadas, cumprir com disposições de órgãos regulatórios e mais uma rodada de requalificação de pessoal - podem fazer com que a implementação do projeto blockchain pareça cara e complexa.
Usando o blockchain na sua empresa
Pisani descreve, por exemplo, um conceito de pequeno blockchain de um sistema de aprovação de decisões para diretores de uma multinacional. Ao invés de ter diversos e-mails dizendo “eu concordo”, você estabeleceria um blockchain, daria chaves aos cinco diretores, definiria a pauta e deixaria que eles votassem em cada item (como um contrato inteligente) no ambiente de blockchain.
“Isso seria muito complicado? Sim”, concorda Pisani, “mas uma vez criado, é só uma questão de definir a próxima pauta”.
“De fato, você pode ter custos iniciais altos para participar”, observa Veith, “principalmente do ponto de vista da capacidade de processamento e do consumo de energia, o que seria uma barreira para empresas antes de aderirem à tecnologia.”
“Com o tempo, depois de implementada a tecnologia, você pode ter enormes economias de custos”.