O estudo inédito da Grant Thornton "Incorporadoras - Uma análise contábil

  • O estudo inédito da Grant Thornton "Incorporadoras - Uma análise contábil

    Quando analisado o universo de 328 empresas de capital aberto no Brasil (1) de diferentes setores, foi identificado que menos da metade (48%) divulga o relatório anual de sustentabilidade ou integrado e apenas 46% utilizam como metodologia o GRI.

  • O estudo inédito da Grant Thornton "Incorporadoras - Uma análise contábil

    É necessário, no entanto, observar contrapontos preocupantes. O primeiro e mais notório é que apenas 9% das empresas do setor de Real Estate submetem seu relatório ESG à auditoria independente.

    A auditoria independente é uma ferramenta de extrema relevância para garantir a confiabilidade dos dados divulgados, assim como para promover uma maior robustez ao processo de gestão de dados ESG e elaboração do relatório.

  • O estudo inédito da Grant Thornton "Incorporadoras - Uma análise contábil

    Entre aquelas que já divulgam o relato ESG, apenas um grupo indica ter definido seus temas materiais.

    Ou seja, aqueles que representam os impactos mais significativos da organização na economia, no meio ambiente e nas pessoas, inclusive impactos em direitos humanos (algo crucial para o desdobramento de estratégia e gestão ESG). 

  • O estudo inédito da Grant Thornton "Incorporadoras - Uma análise contábil

    Já a respeito das práticas relacionadas às emissões de gases de efeito estufa, 50% das empresas informam realizar o inventário considerando o escopo 1 e 2.

A Resolução nº 59 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) exige que desde o início deste ano de 2023, empresas listadas reportem as ações relacionadas às práticas ESG. Caso algum dos itens não seja praticado, a empresa deve informar por quê. É a conhecida situação de “pratique ou explique” no mercado.

No mundo todo, o período pós-pandemia de Covid-19 trouxe aumento considerável das discussões das práticas ESG, sobretudo, com crescente interesse do mercado sobre políticas de responsabilidade social, expansão da demanda por informações mais consistentes, comparáveis e úteis à decisão e ao risco de greenwashing, entre outras.

Essa mudança foi impulsionada por vários fatores, mas os mais importantes, além da necessidade de desenvolver negócios sustentáveis no longo prazo, são a percepção e interesse de clientes, investidores e demais stakeholders sobre o tema.

O mercado de Real Estate e, em especial, as incorporadoras tem um papel fundamental para o avanço do tema, tal qual é a importância do setor na economia do país, na geração de empregos, no desenvolvimento habitacional e de infraestrutura etc.

Há muitos desafios para o setor, mas juntamente a esses desafios, há oportunidades. Listamos alguns dos principais pontos a serem considerados – e como é possível evoluir, para cada um dos pilares da agenda ESG (ou ASG em sua tradução para o português).

A – Ambiental

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que os setores da construção civil e da infraestrutura são responsáveis por 38% das emissões de CO2 relacionadas à energia e consomem quase 50% dos recursos naturais extraídos do planeta.

O impacto direto das atividades do setor no meio ambiente é enorme. Mas também são enormes as possibilidades para ações que visam não apenas restringir esse impacto como também promover mudanças positivas no longo prazo. 

Prédios são ativos de longa duração e, assim, devem se constituir em alvos de curto prazo para evitar o bloqueio (lock-in) de um estoque de edificações ineficientes. O potencial de eficiência energética nas edificações por exemplo é significativo. Em âmbito mundial, a implantação das melhores tecnologias disponíveis e políticas de eficiência energética poderia gerar uma economia anual de energia nas edificações superior a 50 EJ, por volta de 2050.

Ainda em relação ao meio ambiente, é preciso considerar outras questões – como a gestão hídrica e de resíduos. Pensar em soluções e considerar investimentos para direcionar esses pontos deve estar na pauta de todas as empresas do ramo. 

S – Social

A política robusta em relação à saúde e segurança de trabalhadores e de comunidades locais em todo projeto de incorporação é apenas o ponto de partida para práticas responsáveis e sustentáveis no pilar social.

Em um cenário pós-pandemia e conforme às obrigatoriedades ESG avançam, o mercado de incorporação e construção encontra-se diante de novos desafios como mais pessoas trabalhando de casa; maior foco em conforto doméstico; escritórios com novos propósitos; prédios multiusos; e crescente preocupação com saúde e bem-estar. É preciso considerar ainda o aumento da população da terceira idade. Como resultado, muitos imóveis deverão ser projetados para este público tendo como foco a sua acessibilidade, saúde e conforto.

Todos esses desafios encontram respostas em novas tecnologias, mas também e principalmente numa nova abordagem na hora de pensar o empreendimento. Em práticas mais avançadas de ESG, as incorporações devem estar integradas às cidades e também contribuir para torná-las espaços melhores. 

Conectando o pilar social com o ambiental, a emergência climática exige uma mudança no atual modelo de desenvolvimento das cidades. O World Resources Institute (WRI) por exemplo fomenta o Programa Cidades, com Mobilidade Urbana, Mobilidade Ativa e Desenvolvimento Urbano, com projetos para ruas, cidades com florestas, eletromobilidade no transporte coletivo, vitalidade urbana de bairros, etc.

Ainda no aspecto social, outro ponto de grande responsabilidade das incorporadoras é o da gestão da cadeia de valor - uma complexa rede de micro, pequenas, médias e grandes empresas de vários setores.

Habitualmente, o modelo de seleção de fornecedores se baseia principalmente nos preços. Não atentar para a responsabilidade social e ambiental dos fornecedores, com programas que considerem diligências de práticas, avaliações in loco e apoio ao desenvolvimento, pode acarretar grandes riscos, não apenas financeiros (como aumento das despesas e do custo de capital, dificuldade de acesso ao crédito e queda do valor de mercado das companhias), como também riscos legais e de reputação, refletindo negativamente nas marcas e em sua credibilidade perante os consumidores.

G – Governança

Em relação à governança, como já pontuado no início desse artigo, é fato que tivemos muitos avanços. Mas ainda há muito a se fazer – em relação às ações, aos reportes e, atuação da governança na pauta ESG.

Com o ESG agora desempenhando um papel proeminente na forma como as empresas operam, os investidores estão incorporando tais considerações em todas as fases do ciclo de vida da propriedade, desde a devida diligência até as aquisições e desde o arrendamento até o gerenciamento de ativos.

As boas práticas de governança impactam diretamente a capacidade de uma organização de construir a confiança de investidores, inquilinos e da comunidade.

As estruturas de governança corporativa que incluem aspectos ESG estão mais bem equipadas para analisar riscos que podem impactar negativamente as operações, incluindo a oposição das partes interessadas, boicotes, multas governamentais e litígios.

É um caminho longo, que passa necessariamente por entender o que é preciso fazer, o que é preciso reportar e quais as estratégias para tornar a agenda ESG estratégica. 

Sem começar agora, será impossível a essas companhias e ao mercado como um todo ter ações consistentes quando novas demandas começarem a surgir. E isso não vai demorar. 

Autoras

  • Autoras

    Maria Regina Abdo

    Sócia de Auditoria e líder de Real Estate da Grant Thornton Brasil 

  • Autoras

    Daniele Barreto e Silva

    Especialista em ESG na Grant Thornton Brasil 

  • Laura foto

    Gabriela Halphen Ribeiro Santos

    Consultora em ESG da Grant Thornton Brasil