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ARTIGO

Resiliência e responsabilidade social corporativa em momentos de crise

Meire Ferreira

Diante de eventos com amplo impacto, como a atual pandemia do novo coronavírus, repercutindo no modo como lidamos em nossas rotinas pessoais e na agitação do mercado como um todo, muito se fala (e se exige) da resiliência de lideranças globais e empresariais. Entretanto, aparentemente, existe uma limitação no conceito da “palavra da vez”.

Afinal, o que é resiliência?

O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) define resiliência como a “habilidade de um sistema e seus componentes para se antecipar, absorver, acomodar ou restaurar de efeitos de eventos danosos em um espaço de tempo de maneira eficiente” (IPCC 2012:5).

A origem do conceito é ecológica e está relacionado à vulnerabilidade em sistemas sociais. Por vulnerabilidade entende-se que é “o estado de susceptibilidade de dano pela exposição ao estresse associado às mudanças social e ambiental e da ausência da capacidade de adaptação.”

Esse resgate de definição justifica a existência de entendimentos acadêmicos (IDS 2012) que corroboram sobre a redução no alcance conceitual quando utilizado pela ciência econômica que conta, por sua vez, de conceitos, ferramentas e experiência consolidadas.

Tal estudo aponta, ainda, diversos aspectos sobre os quais a resiliência não responde às necessidades de sistemas sociais alcançados pelas ciências econômica e política até então, sugerindo uma redefinição do conceito de resiliência da seguinte forma:

“Boa resiliência é a habilidade de um sistema acomodar positivamente mudanças e choques adversos, simultaneamente em diferentes escalas e considerando todos os diferentes componentes e agentes de um sistema, através de complementariedade de capacidades de absorver, adaptar e transformar.”

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Qual o cenário e os desafios a serem enfrentados?

A crise na saúde global está conectada com o eixo socioeconômico do desenvolvimento sustentável. Recentemente, o World Economic Forum publicou um estudo sobre o impacto socioeconômico da Covid-19 apontando que a “as interrupções na cadeia de suprimentos, a indústria de transformação e a queda dos preços das commodities, em particular o petróleo, agravam ainda mais o impacto econômico da pandemia. Isso abalou os mercados financeiros, apertou as condições de liquidez em muitos países, criou saídas de capital sem precedentes dos países em desenvolvimento e pressionou os mercados de câmbio, com alguns países sofrendo escassez de dólares. Moedas locais fracas restringirão a capacidade do governo de estímulo fiscal na escala necessária para estabilizar a economia e enfrentar a crise da saúde e a crise humana.”

Corroborando essa divulgação, as Nações Unidas afirmam que as 17 metas do milênio sofrerão um retrocesso com a pandemia, com destaque para as metas cujo impacto socioeconômico já é verificado, inclusive no Brasil, para o combate à:

Colocando o conceito em prática

Para que a resiliência, em seu conceito amplo e redefinido, seja de fato uma prática real no modo de enfrentar os efeitos negativos em momentos de adversidades é necessário ampliar o olhar sobre valor compartilhado.

Ter uma visão sistêmica é imperativo na gestão de sustentabilidade de qualquer organização e, mais ainda, para realizar uma gestão de crise efetiva com impactos tão relevantes sobre mercados e sociedades, como é o caso da Covid-19.

Trata-se da necessidade de estabelecer, definitivamente, uma visão de longo prazo por parte de organizações públicas e privadas que fomentam a economia e atividade produtiva direta ou indiretamente, tendo todos os impactos atrelados a uma gestão de riscos de forma preventiva para que se possa acionar rapidamente planos de emergência e evitar ao máximo danos irreversíveis a sistemas ambientais, sociais e econômicos dos quais possuímos interdependência e interconectividade.

A resiliência na gestão socioambiental

Com as transformações em curso, espera-se um maior enrijecimento na aplicação da legislação socioambiental por parte dos países, inclusive no Brasil, o que impactará atividades operacionais e relações comerciais entre países e empresas. 

Na imagem ao lado demonstramos como as organizações devem aprimorar sua gestão socioambiental e governança atrelada para não serem surpreendidas e penalizadas por situações que não necessariamente estão em seu controle.

O “novo normal” definirá os rumos da economia e as dinâmicas produtivas e de geração de conhecimento sofrerão mudanças disruptivas para darem conta dos desafios que farão parte da vida humana, consequentemente das organizações.

De um ponto de vista prático, a resiliência, a visão sistêmica (para as empresas traduzida para um olhar de valor compartilhado ao longo de cadeias de valor) e uma escalada para a responsabilidade empresarial perante a sociedade e mercados são indispensáveis.

A pandemia de Covid-19 se mostrou absolutamente surpreendente pelos impactos negativos que causou e vem causando no mundo. Uma percepção clara por parte das organizações, sejam elas públicas ou privadas, sobre seu papel no mundo e as externalidades que causam, é a direção acertada para navegar com segurança em tempos de grandes desafios econômicos e socioambientais que estamos presenciando no mundo.