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Regulação de Taxonomia: Preparando o Setor Bancário para o Futuro”

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A Comissão Europeia está liderando uma mudança nas finanças sustentáveis. Com a chegada de 2022 e a entrada em vigor da Taxonomy Regulation da União Europeia, a expectativa é de que haja um grande impacto nos fluxos de capital dos mercados financeiros. Mas esta não é a única mudança que afetará o setor bancário. À medida que passamos de iniciativas ESG voluntárias para legislação obrigatória, exploramos o que o setor bancário precisa priorizar.
Destaques

O setor de serviços financeiros tem um papel essencial a desempenhar no esforço global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o impacto das mudanças climáticas. Sem canalizar o investimento privado para projetos que estão ajudando a criar uma economia global mais eficiente, resiliente e sustentável em termos de recursos, cumprir as metas ambiciosas estabelecidas pelo Acordo de Paris seria ainda mais complexo do que já é.

Catherine Duggan.pngCatherine Duggan, head de Sustentabilidade - Serviços Financeiros da Grant Thornton Irlanda afirma que “existem diversas ações para empresas, legisladores e o setor financeiro percorrerem rumo ao Net Zero. Entre as mais urgentes está o papel que a legislação deve desempenhar ao exigir que o setor privado faça mais”. A introdução pela União Europeia do European Green Deal e do pacote de regulamentos de apoio, incluindo a taxonomia da UE, representa uma grande mudança das atividades voluntárias de ESG por parte das empresas para exigi-las por lei.

Essas mudanças são apenas o começo. A taxonomia é uma das várias medidas definidas a serem introduzidas pela UE, apoiando iniciativas como o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis ​​(SDFR, da sigla em inglês), e governos em todo o mundo estão formalizando seus compromissos climáticos e alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento de Sustentabilidade das ONU.

Reagir aos requisitos regulamentares significa ir além do desenvolvimento de políticas e sistemas para atender aos requisitos atuais. Os bancos devem incorporar a sustentabilidade em cada elemento de suas operações e relacionamentos com clientes e reguladores, além de estar em constante atualização sobre possíveis mudanças.

Perguntamos aos especialistas da Grant Thornton de toda a Europa o que essas novas medidas significam para os bancos e o que eles precisam fazer para serem mais proativos em relação à sustentabilidade.

Divulgação agora é o mínimo necessário

Nesse novo cenário legislativo, ser capaz de divulgar de maneira eficiente o desempenho e o progresso ESG é cada vez mais visto como apenas o começo. O principal objetivo dos requisitos de entrada, como o SFDR e a taxonomia, é criar regras harmonizadas onde antes havia uma infinidade de abordagens diferentes. Isso promoverá uma maior transparência sobre o impacto ESG e o desempenho dos investimentos.

Os bancos serão obrigados a divulgar, tanto no nível da empresa quanto do produto, sua abordagem para integrar os riscos e impactos da sustentabilidade em seus processos e produtos financeiros. Catherine acrescenta: “Ir além da conformidade e integrar a sustentabilidade em suas decisões estratégicas tem benefícios potencialmente enormes para os bancos. Isso os permitirá identificar e mitigar melhor os riscos, criar pontos de diferenciação únicos e oferecer uma vantagem competitiva”.

Operacional: priorizando dados

A coleta de dados precisos e claros sobre o desempenho ambiental e o impacto dos investimentos é vital para que os bancos acompanhem a legislação cada vez mais rigorosa sobre divulgação. Isso, no entanto, significa superar alguns obstáculos significativos.

Fani Xylouri.png“Atualmente, há uma lacuna substancial entre os requisitos e os dados de relatórios devido à falta de padrões de relatórios comuns e dados disponíveis publicamente”, disse Fani Xylouri, gerente de serviços de sustentabilidade da Grant Thornton Luxemburgo. “No entanto, com o tempo, espera-se que estruturas harmonizadas estejam amplamente disponíveis. Até então, os profissionais financeiros terão que confiar nos indicadores mais comumente aceitos e nas informações qualitativas acessíveis”.

Emma Verheijke.pngPara Emma Verheijke, sócia de Consultoria em Sustentabilidade da Grant Thornton Holanda, esta é uma área que, claramente, os bancos precisam se concentrar no curto a médio prazo. “Os bancos precisam melhorar seus dados e medições sobre o desempenho ESG e o impacto de seus portfólios. Quando as informações não estão disponíveis em fornecedores de dados – como a MSCI, as empresas devem explorar o desenvolvimento de estratégias de dados para medir ou modelar o impacto por conta própria”.

A coleta de dados é apenas uma parte da equação. Disponibilizar esses dados de forma transparente para uma ampla gama de públicos também pode ser um desafio do ponto de vista organizacional. “Internamente, os bancos precisam incorporar a gestão de riscos ESG em seus processos de comunicação interna, incluindo relatórios regulares para a gestão”, diz Fani. “Externamente, é essencial que as divulgações para os investidores ofereçam a eles uma visão completa, incluindo estratégia de investimento, sistemas de classificação e métricas, bem como desempenho a curto, médio e longo prazo”.

Tático: incorporando sustentabilidade ao desempenho

Além de serem capazes de avaliar com precisão os materiais e o desempenho em relação aos aspectos ESG, os bancos precisam tentar incorporar o pensamento de sustentabilidade em todas as partes de suas organizações. Uma das maneiras mais eficazes de fazer isso é torná-los parte das análises de desempenho.

Karin Björk.png“Isso ajuda a garantir que o board e os gestores estejam totalmente alinhados, com a sustentabilidade integrada em todas as linhas de negócios e comunicada aos stakeholders internos e externos”, afirma Karin Björk, líder de Finanças Sustentáveis ​​da Grant Thornton Suécia. “Taticamente, isso precisa ser sustentado por metas claras, com KPIs adaptados a toda a operação, bem como aos diferentes níveis do banco. Sem isso, será muito mais difícil medir o desempenho da sustentabilidade ao longo do tempo”.

Ser capaz de fazer isso de forma eficaz significa criar os fluxos de informações corretos entre diferentes equipes e níveis de gerenciamento. “É fundamental implementar os procedimentos e sistemas corretos para garantir que as informações de sustentabilidade sejam divulgadas de forma sistemática e que estejam sempre disponíveis para a tomada de decisões estratégicas”, diz Emma.

Estratégico: incorporando sustentabilidade em sua tomada de decisão

Integrar sustentabilidade e estratégia é uma oportunidade para os bancos criarem vantagem competitiva. Catherine acrescenta: “Os clientes, investidores e formuladores de políticas querem cada vez mais ver o impacto do clima incluído nas informações de transações e aquisições. Embora as mudanças na regulamentação exijam uma mudança na abordagem, há um espaço significativo para os bancos irem mais longe”.

Na visão de Karin, é importante ressaltar que as principais considerações estão relacionadas à base de clientes corporativos dos bancos e qual exposição ao risco eles têm por meio de sua carteira de empréstimos. “Se o portfólio for exposto a empresas que não estão conseguindo gerenciar seus riscos relacionados à sustentabilidade, isso pode levar a perdas substanciais. Isso também se relaciona a como os bancos integram a sustentabilidade ao desenvolvimento de produtos.

A falta de oferta de produtos atraentes, como títulos, empréstimos e produtos de investimento relacionados à sustentabilidade, significa que os investidores corporativos e institucionais podem levar seus negócios para outro lugar”.

Compreender e supervisionar as cadeias de valor será importante. Cada empresa é afetada de maneira diferente, mas também tem um impacto único. Para Karin, a chave é “realizar uma análise de materialidade com base em questões de sustentabilidade específicas do setor, bem como a exposição individual da empresa e a gestão de aspectos financeiros e de governança, sociais e ambientais. Sem uma visão geral sólida dos riscos e oportunidades que enfrentam no espaço ESG, os bancos terão dificuldade em cumprir os requisitos regulatórios”.

Um bom ponto de partida para a análise da sustentabilidade são as quatro áreas do Pacto Global: meio ambiente, direitos humanos, direitos trabalhistas e anticorrupção. Além disso, há uma grande variedade de métodos e estruturas que formam um excelente ponto de partida para áreas de foco específicas, como GRI e SASB (agora Value Reporting Foundation) e a Task Force on Climate-related Disclosure (TCFD).

Quais os impactos para as empresas brasileiras?

Daniele Barreto e Silva, Especialista em ESG na Grant Thornton BrasilDaniele Barreto e Silva, líder de Sustentabilidade da Grant Thornton Brasil, ressalta que as empresas brasileiras também devem estar atentas à regulamentação europeia e seus impactos, que pressionará por maior transparência àquelas que receberem ou têm a intenção de receber capital europeu.

 

Preparando-se proativamente para um futuro de baixo carbono

Claramente, os bancos precisam pensar em mais do que apenas legislação ao procurar se adaptar a um cenário regulatório e de negócios em constante mudança. Os bancos devem coletar dados precisos e claros sobre o desempenho ambiental e o impacto dos investimentos para acompanhar a legislação cada vez mais rigorosa. Priorizar a melhoria de seus dados e medições sobre o desempenho ESG e o impacto de seus portfólios é fundamental.

A sustentabilidade deve ser integrada em todas as linhas de negócios e comunicada aos stakeholders internos e externos. Integrar a sustentabilidade e a tomada de decisões estratégicas, ao mesmo tempo que integra a sustentabilidade nas avaliações de desempenho, permitirá que os bancos criem uma vantagem competitiva.

A escala e o ritmo das mudanças podem ser desafiadores, mas é fundamental que os bancos comecem e desenvolvam seu progresso. Os sistemas precisam ser ágeis o suficiente para se adaptar aos requisitos regulatórios em andamento, bem como fornecer aos investidores e clientes corporativos dados quase em tempo real sobre o desempenho e o impacto do investimento. Integrar a sustentabilidade à estratégia é uma jornada, e não um destino.